terça-feira, 6 de abril de 2021

Garanhuns berço e casulo da Família Mochileira

Antigo Casarão na Baixa da Lama, Brejão - PE

Bem perto de Garanhuns, a uns 20 quilômetros, ao longo da  estrada asfaltada Garanhuns-Brejão, fica a propriedade chamada Mochila. Hoje a mesma se encontra dividida em pequenas fazendas, onde ainda se plantam café, verduras e outros produtos agrícolas. Foi ali onde se estabeleceram Micael de Amorim Souto e Maria Paes Cabral, em 1717. 

As terras do Saco e da Mochila estão localizadas entre duas montanhas - designadas localmente como Mochila de Baixo e Mochila de Cima. As terras mais férteis dessa antiga propriedade estão localizadas no vale entre essas duas elevações. Esse vale começa em um vasto caldeirão, em forma de "U", no centro do qual há uma fonte d'água, saindo da encosta da montanha.

Sítio Baixa da Lama, Brejão - PE - Casa de Heronides Gueiros de Barros, sogro de Ulisses
Essa fonte é a nascente de um riacho, chamado, Riacho da Mochila. Ao passo que esse filão de água escoa vale a baixo, vai sendo alimentado por várias outras fontes, e mudando de nome ao longo seu percurso, passando a ser chamado Riacho da Laje, depois Riacho do Saco e, vários quilômetros mais adiante passa a ser denominado Riacho Torado. Esse filão é permanente, não faltando água durante todo o ano, nem mesmo nos períodos de seca. Vários pequenos açudes foram construídos, ao longo do seu curso, para irrigação, de modo que o vale é fértil o ano todo, com água em abundância.

Os primeiros desses açudes, ainda dentro do mencionado caldeirão em forma de "U", são grandes tanques para criação de peixe. Não é de admirar que o velho Micael de Amorim Souto tenha se esforçado tanto para adquirir toda essa propriedade para si mesmo. Tanta fartura de água é coisa rara no Nordeste, mesmo nesta região da Serra da Borborema.

O vale da Mochila vai se alargando e formando como que um grande leque, em direção da cidade de Brejão, passando a ser denominado mais adiante como Baixa da Lama, área esta já fora do perímetro da propriedade original. Do alto da confluência das mencionadas montanhas - Mochila de Cima e Mochila de Baixo -  pode-se vislumbrar todo o vale, muito verde e de aparência muito agradável, que vai até aonde os olhos alcançam.

O mencionado caldeirão, formado naquele lugar, onde nasce o Riacho da Mochila, fica imediatamente abaixo daquele ponto de observação, nas profundezas de um despenhadeiro de quase duas centenas de metros.

Seguindo uma estrada de terra batida, acompanhando o riacho por vários quilômetros, bem mais adiante encontramos a linha divisória entre o Saco e a Mochila. A propriedade toda, quando comprada em 1717, tinha o nome de "Saco". Porém, tendo em meta evitar problemas de terras com seu sócio, Micael Souto mandou desbastar e "salgar" uma grande faixa de mais de cem metros de largura, desde a Mochila de Cima até a Mochila de Baixo. Essa faixa, totalmente estéril, serviu como indelével linha divisória entre as duas propriedades. Não sei que tipo de "sal" foi esse utilizado por Micael, pois quase trezentos anos mais tarde essa faixa de terra ainda é estéril, não crescendo nela "nem capim nem mato".

A parte das terras a montanha do riacho foi a que Micael Souto escolheu para si, dando-lhe o nome de Mochila, diferenciando-a  assim do restante da outra propriedade, ainda hoje denominada Saco. Sem dúvida uma indicação de que ele pelo menos tinha uma bom senso de humor.

A dimensão original das terras era de quatro mil quadras: duas mil do Saco e duas mil da Mochila. "Quadra" é uma medida antiga, equivalente a 12.500m². Assim, cada propriedade tinha 25 quilômetros quadrados.

Fomos em busca do cemitério dos antigos mochileiros, na Baixa da Lama, tendo descoberto que o mesmo fora derrubado para dar lugar a uma torre de eletricidade da Companhia Hidrelétrica de São Francisco - CHESF. Informaram-me  ainda que um "político" de Brejão mandara apanhar todas as ossadas desenterradas pela CHESF, dando-lhes descanso final no cemitério daquela cidade. Ninguém sabia informar o nome do tão consciencioso e amável político. Sem dúvida alguém de ascendência mochileira.

Voltando ao passado em termos da genealogia gostaria de dizer mais uma vez qual o significado da palavra "Mochileiro" e para  isto conto com a palavra do historiador Alfredo Leite Cavalcanti, de saudosa memória, através do livro História de Garanhuns, quase toda feita baseada em documentos de cartórios  não só de Garanhuns, porém de outros.

"Foram os quatros patriarcas o português Manoel da Cruz Vilela, que vivendo aqui em 1703, anos depois se casou com dona Maria Pereira Gonçalves; Manoel Ferreira Azevedo, aqui chegado em 1707, já casado com dona Simôa Gomes; Micael de Amorim Souto, casado com dona Maria Paes Cabral aqui residente em 1708; e o português Antônio Vaz da Costa, casado com dona Luiza Santos Soares, aqui já residentes em 1716, ele filho do casal português Antônio Vaz da Costa e Luiza Vaz da Costa.

A denominação Mochileira, dada à principal família garanhuense desde o começo da sua formação, provém do fato de haver o Capitão Micael de Amorim Souto, em sociedade com o Capitão Pedro Rodrigues de Pontes, em 6 de outubro de 1717, ter comprado a Lopo Gomes de Abreu, o sítio Saco, denominado a sua parte de Mochila" e assim distinguir da outra parte do terreno. 

Estes mochileiros, pobres e ricos, são ligados por laços familiares desde a fundação de Garanhuns pela mameluca Simôa Gomes de Azevedo. Ei-los: Azevedos, Soutos, Vaz da Costa, Gueiros, Brancos, Jardins, Ferreiras, Rodrigues, Herculanos, Neves, Dantas, Vilelas, Burgos, Moraes, Rocha, Godois, Carvalhos, Machados, Teles, Furtados, Vanderleis, Cesários, Vandeiras, Correias, Dias, Maltas, Barbosas, Araújos, Pais, Pais de Liras, Noronhas, Macedos, Melos, Medeiros, Barros, Teixeiras, Batistas, e Barretos. Eis aí o Império sem Imperador de grande família Mochileira.

Por David Gueiros Vieira / A História da Família Gueiros

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